VALe pelo o que faz
Para onde vai Val depois do Conselho Tutelar? Para a rua, de onde ele nunca sai. Para onde vai Val, senão ao encontro das mesmas criaturas com as quais não se costuma marcar encontro? Val vai para os pobres, Val vai para os simples. Val vai para as casas onde os doentes escondem o martírio, onde os velhos desistiram, onde instalou-se o abandono, onde as mulheres são surradas, onde a infância não brinca, onde o risco perdeu motivos.
Val vale pelo que faz. Val compensa nossa falta de tempo, a desatenção dos nossos afetos. Val acha aqueles que a cidade perdeu. Val não dorme porque há os que sofrem de madrugada, Val não perde o dia porque há os que precisam de luz. Val não tem nada, porque tem o essencial, olho para ver o que ninguém vê, coração sobrando pro amparo, pernas pelos que não andam. Val tira a gente do sossego, pede ajuda pra chegar aonde a gente não vai.
Val vale pelo que faz. Quem mais é tão homem público quanto aquele que deixou de viver para si mesmo? Quem mais é tão homem público quanto aquele que não sai das ruas, quanto aquele que só volta pra casa depois de servir? Quem mais é tão homem público quanto aquele que nem se pertence de tanto entregar-se? Quem mais é mais é tão homem público quanto aquele que cuida dos invisíveis, dos rejeitados, dos mais jogados por aí?
Para onde vai Val, depois do Conselho Tutelar? Vai continuar mostrando a cara, dizendo por aí que segue vivendo e achando bom, porque só isso e desse tamanho é que ele sabe viver. Pelo outro, com o outro, para o outro sem nome, para os que poucos sabem que existem, os que ele encontra hoje e de quem se faz fraterno como se conhecesse há muito. Val vai para aqueles que ainda são ninguém, de quem consegue arrancar o brilho difícil da humanidade a recuperar. Val vai para onde você quiser. Val vai para onde você precisar. Val é prontidão inteira, a garantia do "tou" já chegando aí. Talvez a gente precise de homem público que vá além do geral, que alcance o particular, que recolha a lágrima mais doída que a gente não sabe onde se esconde, que descubra o sofrimento lá onde ele mais se feche. Talvez a gente precise de homem público que conheça as dores privadas, atenda ao grande projeto que não pode ser outro senão cuidar das pessoas. E Val não é slogan ou frase de efeito, Val cuida no silêncio, Val não mostra o que faz ou a quem faz, porque a ternura recusa ruído pra não espantar. Mas a gente sabe que pode contar com ele, o que pode esperar dele. A gente sabe do que é capaz quem conhece a cidade miúda, quem acaricia os deserdados, quem arranja tempo pros velhos, quem se aperreia com os descalços, quem se apieda dos que passam fome, quem senta no orfanato nas tardes de domingo. Quem vale pelo que faz.
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